4 de out. de 2008

A história da acunputura

Fazendo as minhas pesquisas na internet, encontrei este artigo fantástico e de fonte de estudo precioso, para todos aqueles que se interessam pela medicina ayurvédica e chinesa. Leiam o texto a seguir:
"A literatura médica oriental faz referencia a utilização de alguma forma de acupuntura na Índia antiga. Alguns autores afirmam que: a acupuntura foi baseado no sistema do Ayurveda chamado marma, que são áreas ou pontos vitais que ao sofrerem um traumatismo levaria a morte ou seqüelas importantes. Com relação aos pontos marmas Lele, Ranade e Frawley afirmam:

“ Definição de Marma:

1-O ponto marma é definido como um sítio anatômico onde músculo, veias, ligamentos, ossos e articulações se encontram. Isto não significa que todas as estruturas devem estar presentes coletivamente no sitio do marma.
2-De acordo com o Ashtanga Hridayam estes são os pontos onde importantes nervos se juntam com outras estruturas como músculos e tendões. Vagbhata diz que aqueles sítios que são dolorosos e mostram pulsação anormal também devem ser considerados como pontos marma ou pontos vitais.
3- ...portanto estas áreas especificas do corpo tem relações com os canais de Prana de vários órgãos internos.
4- De acordo com uma outra definição eles são “Marayanti iti Marmani”ou seja estas são áreas vitais que podem produzir a morte. Se os marmas sofrerem injúrias eles nem sempre resultam em mortes mas podem causar várias doenças que são difíceis de curar.
5- Os marmas, ou pontos vitais no corpo, são junções do corpo com a mente. São, também, pontos de pressão no corpo semelhantes aos pontos de acupuntura da Medicina Tradicional Chinesa.” (Lele, Ranade e Frawley, 1999: 9)

No clássico de cirurgia Susruta Samhita são citados 107 pontos marmas, alguns destes pontos tem uma localização muito semelhante aos pontos da acupuntura clássica chinesa, Os pontos marmas estariam ligados aos canais de Prana. Segundo o”Sanscrit English Dictionary” a palavra Prana em sânscrito têm as seguintes traduções:

“ Prana: A respiração da vida, respiração, espírito, vitalidade, um órgão vital, ar vital, ar inalado, vento, respirar, vigor, energia, poder.” ( Monier, 1979: 171)

O Prana circula em condutos chamados nadis que são largamente comentados nos textos de Yoga e Tantra. Feuerstein no seu trabalho sobre Yoga afirma:

“ A teoria das várias correntes vitais( vayu) do corpo, que se originou na época do Atharva-Veda, é mais um dos fortes pontos de conexão que ligam o Ayurveda e o Yoga. Os médicos geralmente distinguem treze canais( nadi) ao longo dos quais correm, por pressuposto, os diversos tipos de força vital ( prana ), ao passo que os textos de Hatha-Yoga costumam mencionar quatorze canais principais...as chamadas zonas vulneráveis ou sensíveis ( marman ), já mencionados no Rig-Veda( 6.75.18). Segundo o Ayurveda existem 107 marmans, que são conexões vitais entre a carne e os músculos, os ossos, as articulações ou os tendões,ou entre duas veias. Um golpe bem dado em alguns destes marmans pode causar a morte, como sabem por seu conhecimento secreto os lutadores de certas artes marciais chinesas e japonesas. O Kalarippayttu, arte marcial praticada no sul da Índia, reconhece 160 a 220 destes pontos sensíveis no corpo....Os marmans dependem do fluxo de Prana e sem Prana não existem marmans...” (Feuerstein, 2001: 122)

Vários autores ocidentais e orientais afirmam que acupuntura era conhecida e praticada na Índia antiga e que um texto especifico sobre o assunto foi escrito no período védico. Os autores Lele, Ranade e Frawley citam diversas referencias no seu trabalho “Secrets of Marma”:

“ A ciência da acupuntura tem sua raiz nos Vedas.A primeira referencia a acupuntura é encontrada no Rig-Veda e naquele tempo um texto separado estava disponível que era conhecido como Suchi-Veda. Infelizmente este texto não está disponível atualmente. Durante o período antigo, agulhas ( suchi) de bambu e madeira eram usadas para acupuntura. Susruta mencionou a arte da acupuntura com o nome de Vyadhana ou Bhedana Karma ...”(Lele, Ranade e Frawley, 1999: 11)

Na Índia no período de expansão do budismo, após o século III A C, vários centros de conhecimento foram formados relacionados a tradição budista, os mais famosos são Nalanda e Taxila. Quando o budismo tornou-se popular na China nos primeiros séculos da nossa era vários chineses, foram a terra natal de Buda, buscar maior conhecimento e levar textos budistas para o seu País de origem. Zysk cita dois peregrinos chineses que viajaram a Índia e entraram em contato com o ensino da medicina:

“ Descrevendo o monastério em Nalanda no inicio do século VII, o peregrino chines budista Hsun-tsang ( na Índia de 629 a 645 D C ) coloca que estudantes de todos os lados vinham estudar com homens sábios em Nalanda. Aqueles que desejavam estudar no monastério deviam ser primeiro educados nos assuntos novos e antigos e estar preparados para entrar em debates intelectuais....Hsuan- Tsan mensiona que o estudante iniciava estudando as cinco ciências....com respeito a medicina, ele diz que, incluía: exorcismos, medicina,o uso de pedras medicinais, agulhas e moxa.... Durante a ultima metade do século VII D C, I Tsing, outro peregrino budista chinês, que visitou muitos monastérios budistas na Índia, também mencionou o estudo das cinco ciências e explicou que a ciência da medicina era composta de oito secções, o clássico oito ramos ( astanga): “o primeiro trata todo tipo de feridas, o segundo acupuntura para qualquer doença acima do pescoço, o terceiro doenças do corpo, o quarto doenças demoníacas, o quinto antídotos, o sexto doenças das crianças, o sétimo meios de prolongar a vida e o oitavo métodos de revigorar as pernas e o corpo.” ( Zysk, 1998:47)

Estas duas referencias, distintas, de peregrinos chineses, confirmam que a acupuntura era ensinada e praticada na Índia antiga pelas “universidades” budistas. Parece que este conhecimento se perdeu em algum momento, possivelmente na idade média , com as invasões muçulmanas, que destruíram os centros de conhecimento budistas e com isto muitos livros foram perdidos. Frawley afirma:

“ O sul da Índia tem sido um reservatório do antigo conhecimento, foi o principal região de refugio no sub-continente do cruel ataque islâmico durante a Idade Média quando a maioria dos monastérios e templos do norte da Índia, incluindo as duas universidades de Nalanda e Taxila, foram destruídas...Infelizmente o Ayurveda e outros sistemas Védicos da Índia foram preservados em tradições familiares que, como regra , não dividem o seu conhecimento abertamente. Isto significa que o conhecimento disponível sobre Ayurveda nos livros, mesmo em línguas indianas, representa apenas uma fração do que é guardado escondido e sómente é transmitido por transmissão oral. Estes segredos da acupuntura ayurvédica e da terapia por pontos de pressão podem ser encontrados nas tradições familiares da Índia atualmente.” ( Frawley, em Ros, 1995:xiii)

Alguns autores fazem uma relação entre a cirurgia indiana, que teve como seu principal patrono Susruta, e a acupuntura. É possível que algum método de tratamento com agulhas tenha sido utilizado na antiga Índia pelos médicos-cirurgiões relacionado aos pontos marmas que como vimos estão associados ao fluxo de prana. Com relação a isto Ros em seu pioneiro “The Lost Secrets of Ayurvedic Acupuncture” afirma:

“A Medicina Ayurvedica tem muitos ramos diferentes, já que é o estudo de todo corpo e vida humana. Um destes damos é a Acupuntura Ayurvedica. Isto pode ser chamado de terapia acessória desde que foi usada em conjunto com outras formas de cura, de forma mais correta pertence ao ramo da cirurgia, uma das oito disciplinas médicas do Ayurveda.” (Ros, 1995: 2)

Apesar das grandes evidencias da literatura nós não sabemos exatamente como era a acupuntura indiana nos primórdios da formação do Ayurveda. Mas no clássico da Medicina Indiana, Charaka Samhita, existe referencia ao uso de agulhas e moxa em paciente com sincope. Não podemos esquecer que o compendio de Charaka, de forma diferente do tratado de Susruta, é uma compilação sobre medicina interna:

“ Se o médico encontra um paciente sofrendo de sincope então...agulhamento e queima ...são úteis em trazer a consciencia” (Characa, em Ros, 1995:3)


Com esta afirmação retirada do Charaka Samhita podemos inferir que havia uma forma de acupuntura na antiga Índia, além disto os requisitos básicos para a acupuntura existir segundo Unschuld, ou seja utilizar as agulhas em pontos específicos na pele para influenciar o fluxo de Qi em condutos previamente mapeados nos parece também viável, através da teoria dos marmas relacionados ao Prana e seus nadis ou condutos.

A possibilidade da existência de um sistema de acupuntura indiana torna-se uma hipótese viável através de todas estas evidencias que foram citadas porém a grande questão que surge neste momento é se este sistema foi desenvolvido de forma independente da acupuntura chinesa ou se estas duas tradições estão interligadas através do intercambio realizado, entre estas duas civilizações, a partir do século II A C. A questão do encontro destas tradições milenares será analisado no próximo capitulo desta pesquisa.
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